quinta-feira, 7 de julho de 2011

O MEC e o livro que ensina a ignorância.

O livro didático acima, foi distribuído a meio milhão de estudantes de escolas públicas brasileiras e custou aos cofres federais alguns milhões de reais. E, o mais grave do referido livro: utilizar dinheiro público para que o povo fale errado. Como considera-lo? Uma extravagância idiomática, um delírio acadêmico ou uma teoria insustentável? Mas, o certo é que a ideia defendida pelo livro é que não haveria necessidade de seguir a norma culta da língua portuguesa e, pobre do professor que,  ao corrigir seu aluno estará praticando o "preconceito linguístico". Dessa forma, ensinar a língua culta aos alunos em substituição à popular constitui sacrilégio ou preconceito. Deve-se, portanto, respeitar o jeito errado mesmo na escola e na frente do mestre. Mesmo em se tratando, naquele momento, de uma aula de gramática, "Nóis vai" está correto, assim como todas as incorreções impostas por corruptelas e deformações, por displicência ou falta de vontade de aprender e de ensinar. Outro detalhe: o livro condena também por "preconceito linguístico" todos aqueles que se espantavam com o modo de falar do ex-presidente Lula. 
Sabemos que a língua faz parte do patrimônio cultural de uma nação. É também o principal meio de comunicação de qualquer sociedade. Por meio dela se transmitem valores, as normas, as crenças, as leis. Se a escola existe para ensinar e educar, como usar um livro que é simetricamente contra todos os argumentos a favor do idioma? Até os princípios da filosofia e da sociologia são subvertidos. Onde ficam os valores passados, presentes e futuros que devem ficar atrelados ao idioma de qualquer povo? A língua é tutelada pelo conhecimento e isso implica necessariamente constante evolução e separação do modo culto e vulgar das ruas. Para tanto, a reforma ortográfica está aí e todos nós estamos "reaprendendo" a forma culta da nossa língua.
Na história da antiga União Soviética, certa vez, radicais bolcheviques sugeriram ao ditador Stálin a criar um nova língua, no lugar do cultíssimo russo das academias e dos grandes escritores e que era também falada pelas elites ligadas aos czares depostos pela revolução. Stálin, mesmo iletrado, mas um pouco visionário, não aceitou o sacrifício da sua língua natal. Ele entendeu que não aprendera o certo e que permanecia no erro porque ninguém o ensinou a maneira correta.
Essa atitude chancelada pelo MEC , nos faz pensar que tudo que aprendemos e que nos foi repassada pelas gerações passadas, podem ser jogadas no lixo, pois não servem para nada. Em plena época de globalização, imaginem em uma entrevista de emprego um candidato que falar de forma errada, será avaliado de forma positiva?
Os idiomas globalizados usam somente as formas de falar e escrever mais refinadas nas suas relações internacionais. Nesse contexto, se a diplomacia brasileira exprimir-se vulgarmente, quando forem fazer  elogios a nossa soja para os chineses, irão dizer: ela é "bão bissurdo", no lugar de "ela é de excelente qualidade".
Confira abaixo trechos do livro sobre o assunto:

“É importante saber o seguinte: as duas variantes [norma culta e popular] são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”

“'Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado'. Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro?’.’ Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”

“Na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar de outra forma. Há ocorrências como:
Nós pega o peixe.
nós - 1ª pessoa, plural
pega - 3ª pessoa, singular
Os menino pega o peixe.
menino - 3ª pessoa, ideia de plural (por causa do “os”)
pega - 3ª pessoa, singular
Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala.”

Polêmico, o  livro didático Por uma vida melhor, de Heloísa Ramos, vem causando espanto pelo simples motivo da falta de justificativas do ministro Fernando Haddad não conseguir explicar à Comissão de Educação, Esportes e Cultura do Senado a lógica do livro.  Nisso tudo, fica-nos a preocupação de que, a criança que aprende como certo "nóis vai" no lugar de nós vamos, se habituará também a escutar o que dizem seus ouvidos e não titubeará em grafar as formas incorretas. Estará, em assim procedendo, coberto de razões, uma vez que o próprio Ministério da Educação de seu país o ensinou que é preconceito linguístico estranhar, espantar-se ou corrigir quem assim fala. 








Em 1984, a banda Ultraje a Rigor já cantava: "...a gente somos inútil..." Confiram:
















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