25 de Agosto de 1803:
Dia em que nasceu Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, considerado o patrono do Exército brasileiro que lutou e defendeu o Brasil em confrontos externos e internos. Em sua homenagem, foi instituída a data em comemoração ao Dia do Soldado.
25 de Agosto de 1961:
A democracia brasileira ainda em sua infância viu-se forçada a renunciar à maturidade, que só seria alcançada caso fossem cumpridos integralmente dois mandatos consecutivos. Na manhã desse dia, o então presidente da república, Jânio Quadros com apenas sete meses depois de sua posse, com sete linhas manuscritas, precipitou, a sequência de crises que desembocaria sete anos mais tarde, no Ato Institucional nº 5 e na instauração da ditadura sem camuflagens. O Brasil civilizado pareceu mais distante que nunca no dia em que o presidente sumiu.
Abrupto e inesperado, o último ato foi um fecho coerente para a ópera do absurdo composta desde o primeiro dia de governo, quando Jânio foi ameaçado pela maioria oposicionista no Congresso: se ele continuasse a hostilizar o antecessor Juscelino Kubistchek, uma sessão especial da Câmara e do Senado seria convocada para tratar do assunto.
Nos 204 dias seguintes, o Brasil viajou numa montanha-russa monitorada por um homem de 44 anos que obedecia exclusivamente o instinto. Tangenciando o penhasco com perturbadora frequência, alternando freadas bruscas com arrancadas vertiginosas, ele aumentou o expediente dos servidores públicos, exonerou meio mundo, suspendeu nomeações por um ano, reduziu o orçamento das Forças Armadas e os quadros funcionais de todas as embaixadas, tabelou o preço do arroz e do feijão, condenou a invasão de Cuba financiada pelos Estados Unidos, planejou a anexação da Guiana Francesa, baixou medidas de combate ao monopólio, desvalorizou a moeda, determinou ao Itamaraty que restabelecesse relações diplomáticas com a União Soviética, proibiu maiô em concurso de miss, lança-perfume, briga de galo, corridas de cavalo em dias úteis e veiculação de comerciais no cinema, mobilizou o Exército para reprimir uma greve de estudantes no Recife, brigou com a maioria dos parlamentares aliados, regulamentou a remessa de juros para o exterior, enviou o vice João Goulart à China, condecorou Che Guevara e rompeu com Carlos Lacerda. No 207º dia de governo, renunciou à Presidência.
De acordo com estudos referente a esse período, nós, pesquisadores, consideramos que o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros, por meio de acordos diplomáticos e comerciais.
Porém, a condução da política externa independente desagradou o governo norte-americano e, internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio estava vinculado, a UDN, sofrendo também veemente oposição das elites conservadoras e dos militares.
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos especulares característicos do estilo de Jânio. Com ela, o presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, e o Congresso seria forçado a pedir seu retorno ao governo, o que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o que aconteceu, porém. A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente.
Vale lembrar que as atitudes teatrais eram usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó sobre os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso sanduíches de mortadela e os comia em público.
Em 25 de agosto de 1991, trinta anos depois da renúncia, Jânio, internado em um hospital de São Paulo, contou toda a verdade sobre sua renúncia ao neto, que, curioso, questionou o avó sobre o episódio. E, num surto de sinceridade, comentou:
Foi o maior erro que cometi...Ao renunciar, eu quis pedir um voto de confiança à minha permanência no poder...Imaginei que o povo iria às ruas, seguido dos militares, e que eu seria chamado de volta...Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Deu tudo errado. O país pagou um preço muito alto...
O "preço alto" a que Jânio fez referência, todos sabemos: a ditadura militar. Na época da renúncia o vice, João Goulart encontrava-se em missão diplomática na China comunista. Dessa forma, a elite nacional se mobilizou contra a posse de Jango ao cargo de Presidente do Brasil. Foi preciso negociações com a Câmara e Senado para que este, em 07 de setembro de 1961 assumisse a vaga deixada por Jânio. Como não era bem visto pelas elites nacionais, governou até 31 de março de 1964 quando um golpe militar o depôs.
Cinquenta nos depois da renúncia, o Brasil parece bem menos primitivo, a democracia tem mais consistência, e Jânio figura na galeria presidencial como um ponto fora da curva. Mas tampouco parece suficientemente moderno para considerar-se livre de reprises de farsa. Países exauridos pela corrupção endêmica serão sempre vulneráveis a algum populista que, com um discurso sedutoramente agressivo, prometa varrer a bandalheira.