sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Discurso Indireto: Universidades de ponta têm menos aulas.

Discurso Indireto: Universidades de ponta têm menos aulas.: Um dos maiores gaps do ensino superior brasileiro veio à tona quando estudantes brasileiros de graduação foram para universidades de ponta ...

Universidades de ponta têm menos aulas.

Um dos maiores gaps do ensino superior brasileiro veio à tona quando estudantes brasileiros de graduação foram para universidades de ponta pelo Ciência sem Fronteiras.
A maioria deles conta que estranhou a quantidade reduzida de disciplinas das instituições dos países estrangeiros.
Um estudante universitário de uma escola como a Universidade Harvard, nos EUA, considerada a melhor do mundo, tem em média 15 horas/aula por semana.
Para se ter ideia do que isso significa, quem faz engenharia na Poli-USP tem quase três vezes mais aulas.
A filosofia de universidades como Harvard é que cada hora de aula demanda em média uma hora extra de estudos e de leituras do aluno. Ou seja, as 15 horas viram 30 horas.
Além disso, a universidade espera que o aluno se envolva em atividades de pesquisa, empresas-júnior, trabalho sociais e culturais e que faça esporte.
Com tudo isso, a formação fica completa e a grade fica cheia.
Enquanto isso, o aluno da Poli mal consegue ter tempo para estudar para as disciplinas obrigatórias porque elas tomam o dia inteiro.
Fazer atividades fora da engenharia, então, esquece.
Essa questão é comumente abordada pelos chefes do Ciência sem Fronteiras.
Na reunião anual de cientistas da SBPC, que neste ano aconteceu em Recife (PE), o diretor da Capes, Jorge Almeida Guimarães, discutiu o assunto e defendeu a redução da grade obrigatória de aulas.
O problema, de acordo com Guimarães, é fazer com que as universidades brasileiras topem essa redução.
O diretor da Poli e candidato à reitor da USP, José Roberto Cardoso, falou sobre o assunto nesta quarta-feira, 16, no primeiro dia de debates dos candidatos à reitoria da universidade.
De acordo com Cardoso, a redução das horas-aulas liberaria os professores para fazer mais pesquisa. E, quem sabe, poderia até fazer com que a quantidade de vagas se expandisse.
Eu não vejo outro caminho para o ensino superior brasileiro que não seja a redução da quantidade de disciplinas obrigatórias.
E você?



Fonte: Folha de São Paulo, 17/10/2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Discurso Indireto: ‘Escola do futuro’ vai desconsiderar idade dos alu...

Discurso Indireto: ‘Escola do futuro’ vai desconsiderar idade dos alu...: As escolas deveriam se preocupar menos com exames, com uma grade fechada de disciplinas e com a idade dos alunos. Essas são algumas d...

‘Escola do futuro’ vai desconsiderar idade dos alunos ao montar as turmas.


As escolas deveriam se preocupar menos com exames, com uma grade fechada de disciplinas e com a idade dos alunos.
Essas são algumas das observações de um grupo de especialistas em educação reunidos em um encontro sobre educação do futuro chamado Learning 2030, que aconteceu em Waterloo, no Canadá.
O evento foi promovido pela Waterloo Global Science Initiative. A ideia foi discutir como será, em 2030, a chamada high school (ensino médio) de quem está nascendo agora em 2013.
Os especialistas que participaram do evento afirmam que a “escola do futuro” vai agrupar alunos por áreas de interesse a partir da high school.
A ideia é que as turmas –de até 30 alunos por professor– sejam formadas com base em critérios muito diferentes da idade dos meninos.
Por exemplo, uma turma de física reuniria alunos de 15 a 18 anos de acordo com o interesse dos estudantes pela disciplina.
Os meninos estariam juntos porque têm mais ou menos as mesmas aptidões e não porque têm a mesma idade.
Esse tipo de experiência já vem sido realizada com sucesso em algumas escolas inovadoras dos EUA.
No Brasil, algumas escolas particulares adotam a proposta de juntar alunos de todo o ensino médio em cursos extracurriculares. Mas essas instituições ainda são exceção.

MAIS TECNOLOGIA
O grupo canadense também defende que as escolas invistam mais em novas tecnologias em sala de aula, já que as tecnologias são irreversíveis. E são mesmo.
Dados da Pnad, pesquisa do IBGE divulgada na semana passada, mostram que a partir do 7º ano a maioria dos alunos brasileiros já tem celular.
Na rede privada de ensino, a maioria tem celular já no 4º ano.  Estão conectados à internet, cansados de lousa e giz.
Os especialistas do Canadá afirmam ainda que o professor deve ter mais autonomia. Ensino apostilado? Nem pensar!

O que você acha? A idade é um fator crucial na formação de uma turma ou os grupos deveriam ser montados a partir do interesse dos estudantes? 








segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Discurso Indireto: Temas da atualidade que podem cair no Enem e vesti...

Discurso Indireto: Temas da atualidade que podem cair no Enem e vesti...: Acompanhar os assuntos que fazem parte do cotidiano no Brasil e no mundo é uma tarefa indispensável aos estudantes que pretendem obter um b...

Temas da atualidade que podem cair no Enem e vestibulares 2013/2014.

Estudantes realizam o Enem (Exame Nacional de Ensino
Acompanhar os assuntos que fazem parte do cotidiano no Brasil e no mundo é uma tarefa indispensável aos estudantes que pretendem obter um bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A prova não tem uma seção dedicada a atualidades, mas exige que os candidatos demonstrem que o conhecimento aprendido nos bancos escolares se relaciona com uma percepção clara da realidade. Sabemos que tanto a redação quanto os testes costumam abordar questões importantes e atuais, seja no Brasil ou no mundo", 
Dessa forma, apresento a seguir os temas atuais que podem ser cobrados no ENEM e demais vestibulares do país. Os temas apresentados na lista a seguir são acompanhados de um breve texto de explicação. Boa Preparação!

Primavera Árabe e seus desdobramentos.


A onda de protestos iniciada na Tunísia, em dezembro de 2010, se espalhou pelo norte da África eOriente Médio e ainda mostra reflexos em nações que lutam contra regimes autoritários. Em comum, esses países possuem população majoritariamente islâmica, o que acrescenta aos protestos e discussões questões de fundo religioso.
Assim como ocorreu no Brasil em 2013, os protestos da Primavera Árabe foram em boa medidaarticulados pela internet. Mas foi nas ruas das grandes cidades que as manifestações ganharam expressão, provocando reação violenta de governos locais. Em alguns casos, o levante conseguiu derrubar ditadores que estavam no poder havia anos. É o caso de Zine El Abidine Ben Ali, apeado do poder na Tunísia após 23 anos no comando. Outro que caiu foi o presidente do EgitoHosni Mubarak, no poder desde 1981. As duas nações elegeram novos presidentes através de eleições populares em 2011.
As manifestações também levaram ao fim o governo do coronel Muamar Kadafi, na Líbia. O ditador, no poder desde 1969, foi assassinado em 2011 após intensos combates entre tropas leais ao ditador e opositores. O último deposto foi Ali Abdullah Saleh, no Iêmen, em 2012: ele estava no poder desde 1978.
A chegada da Primavera à região, contudo, não reduziu a tensão local, tampouco a apreensão do resto do mundo sobre o futuro daquela porção do mundo. Em alguns casos, a transição democrática é incompleta; em outros, ditadores permanecem no poder. É o caso da Síria, que assistiu a protestos pacíficos em 2011 contra o governo do ditador Bashar Assad e agora está mergulhada em uma guerra civil sangrenta que já acumula mais de 100.000 vítimas fatais.
O Egito também voltou ao noticiário internacional. Interrompida a era Mubarak, Mohamed Mursi foi eleito em junho de 2012. Membro da Irmandade Muçulmana, Mursi ampliou os próprios poderes e acelerou a aprovação de uma Constituição de viés autoritário. Opositores foram às ruas contra o governo e pediram a renúncia de Mursi, que falhou na estabilização política e econômica nacional. No dia 3 de julho de 2013, o presidente foi destituído pelo Exército. O chefe da Força, Abdel Fattah Al Sisi, anunciou a criação de um governo de transição e a convocação de eleições.

'Importação' de médicos cubanos.

Em maio, o governo brasileiro anunciou que pode autorizar a imigração de 6 000 médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil, local carente desse tipo de mão de obra. O anúncio não foi bem recebido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que alegou que não há falta de profissionais no Brasil, mas má distribuição deles pelas regiões do território nacional.
Outra controvérsia a respeito é que o projeto aceitaria a atuação desses profissionais sem exigir deles a realização do Revalida, prova de revalidação do diploma obrigatória para quem se formou fora do país e pretende atuar aqui. Possibilidades de intercâmbio em outras áreas e com outros países estão na mira do ministro a Saúde, Alexandre Padilha.
 O assunto pode ser abordado no Enem sob a ótica do imediatismo — ou seja, medidas paliativas adotadas às pressas para tratar de problemas importantes. Em lugar de planejar a formação de mais médicos e de aprimorar a educação nacional, tenta-se resolver o problema de forma apressada, sem análise de consequências.

Deslizamento de encostas nas temporadas de chuvas


s consequências trágicas dos deslizamentos de terra, frequentes em encostas brasileiras durante a temporada de chuvas de verão, são muitas vezes agravadas pela ação humana. Ocupação de áreas de risco em morros, por exemplo, são a causa mais comum. Isso não tira esses fenômenos, contudo, da lista de catástrofes naturais, segundo avaliação do professor de geografia Paulo Roberto Moraes, do cursinho Anglo. “As pessoas falam que o Brasil não tem acidentes naturais, pois não temos vulcão, tsunami ou terremoto, mas essa ideia é falsa. Deslizamento de encostas pode ser considerado uma catástrofe natural local”, diz.
O caso recente mais marcante foi o ocorrido na região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, que deixou mais de 900 mortos e milhares de desabrigados. As cidades mais afetadas foram Sumidouro, Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim. Recentemente, em março de 2013, a região de Petrópolis foi atingida novamente por fortes chuvas, que provocaram enchentes e deslizamentos. Mais de 30 pessoas morreram. Um mês antes, em São Paulo, uma mulher morreu durante deslizamento que interditou parte da rodovia dos Imigrantes — que liga a capital ao litoral.
Para efeito do Enem, é importante entender que os deslizamentos de terra são fenômenos naturais. Isso significa que eles não são produzidos pelo homem — embora sejam claramente intensificados pela ação humana. Se eu permito o povoamento de uma área de encosta onde há risco, por exemplo, acabo por acelerar o processo natural. As consequências podem ser graves.
A principal ação humana que potencializa os deslizamentos é a agricultura, que utiliza técnicas inadequadas para plantio em encostas e acaba por precipitar o processo de erosão e de deslizamentos em época de chuva. A segunda causa relevante é a ocupação para fins de moradia em locais de risco, e de modo inadequado.
Há ações possíveis para atacar o problema. Entre elas, está a realização de obras que estabilizam encostas, além da elaboração de planos municipais de redução de risco. Para prevenir que esses acidentes naturais atinjam o homem, é possível ainda realizar um mapeamento geológico das áreas de risco, que aponta quais locais podem ser ocupados e como. Por fim, um eficiente sistema de previsão meteorológica e alerta pode ajudar.

Desenvolvimento sustentável e economia verde.


O tema desenvolvimento sustentável se relaciona não só com questões ambientais, mas também com áreas como política, economia e urbanização. Assim, a conhecida economia verde, que visa o desenvolvimento minimizando danos ambientais e também a erradicação da pobreza, é um tema atual e dinâmico que pode aparecer no Enem deste ano.
Uma abordagem possível é a que olha o tema do ponto de vista da urbanização sustentável, que procura lidar com questões como a emissão de gases nocivos ao planeta, a utilização consciente dos meios de transporte e a construção de imóveis com menor impacto ao meio ambiente. As construções sustentáveis já são uma preocupação de diversas empresas. O próprio governo se esforçou para que os projetos da Copa do Mundo incluam essa preocupação.
Um terço da energia utilizada no mundo é consumida dentro de edifícios e condomínios, e o setor de edificações é o que mais emite gases poluentes. A construção civil responde por por mais de um terço do consumo de recursos naturais, incluindo 12% da água potável usada. Os especialistas consideram que prédios públicos, como escolas e hospitais, são construções ideais para a aplicação de conceitos sustentáveis, pois podem aproveitar melhor ventilação e iluminação natural.

Energias alternativas e matriz energética brasileira.


Temas relacionados à geração de energia, incluindo novas fontes, têm grandes chances de aparecer no Enem. Energia constitui uma rede de assuntos que se conecta com conhecimento de outras áreas. É o caso de física, química, termodinâmica, meio ambiente e poluição
É importante, então, entender melhor as vantagens e desvantagens de cada um dos elementos da matriz energética brasileira, a começar pelo Plano Nacional de Energia, que prevê a construção de quatro novas usinas nucleares até 2030: se projeto for levado adiante, Angra 3 deve ser inaugurada em 2015 —Angra 1 e 2 já estão em operação.
É fundamental também compreender as controvérsias envolvendo a exploração de petróleo nas áreas do Pré-Sal e a construção da usina de Belo Monte, no Pará — além dos impactos dessas ações no meio ambiente. A leitura sobre energias alternativas, em desenvolvimento no Brasil e no mundo, caso da eólica e o bagaço de cana, também são obrigatórias.

O papel do Brasil no mundo.


Figurando no bloco das nações emergentes, o Brasil ascendeu economicamente sem deixar de lado a redução da desigualdade social, como apontou o recente Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) 2013. A previsão é de que o país, juntamente com China e Índia, respondam em 2050 por 40% da riqueza global.
Outro indicador do prestígio do Brasil no mundo foi a eleição do diplomata Roberto Azevêdo para o posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) — ele assume o cargo em setembro. É a primeira vez na história que um latino-americano alcança o posto máximo da organização, dedicada a promover o comércio entre nações e resolver litígios de transações entre elas.
“Como país emergente, o Brasil se tornou um ator relevante na discussão de questões mundiais”.

Redução da maioridade penal.

A discussão sobre a redução da maioridade penal para 16 anos voltou à tona em 2013 com o crescimento de crimes, muitos deles violentos, cometidos por jovens com menos de 18 anos. Amudança é defendida por políticos como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que propõe uma alteração no código do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja considerado culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que a privação de liberdade para menores de idade infratores não supere os três anos.
O debate tem considerado a realidade de outras nações. Nos Estados Unidos, por exemplo, não existe uma lei específica sobre idade mínima para prisão; na Irlanda, os adolescentes podem ser penalmente responsabilizados por qualquer delito a partir dos 12 anos; no Japão, a partir dos 14. Na Suécia, adolescentes de 15 anos já podem ser presos.

O legado da Copa do Mundo de 2014



A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014 provocou a desconfiança de muitos brasileiros, que temiam que as autoridades repetissem erros na preparação de outros eventos. A apreensão tem se confirmado conforme se aproxima a Copa, com atraso na entrega de estádiosgasto excessivo de dinheiro público e falta de perspectiva de mudança na infraestrutura do país.
Obras de mobilidade urbana e de expansão dos sistemas de transportes públicos, essenciais também para a realização da Olimpíada de 2016, mal saíram do lugar. O mesmo ocorre com aeroportos.
“É importante observar aí um traço da cultura brasileira de deixar tudo para a última hora. Além disso, há um componente intencional, que provoca superfaturamento de obras e despesas extras, relegando o interesse público a segundo plano”. “O maior legado da Copa deveria ser mudar, para melhor, a vida do brasileiro.”

Tragédias no Brasil e o caso de Santa Maria.

O trágico incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 27 de janeiro, que fez 242 vítimas fatais, pode motivar questões sobre falta de planejamento e de observação das leis por parte da sociedade brasileira. Só depois do episódio é que boa parte das cidades brasileiras passou a vistoriar casas noturnas e a exigir medidas de prevenção a incêndios e superlotação. Centenas de vidas poderiam ter sido poupadas se a fiscalização correta tivesse sido feita. Não existe um planejamento para evitar o acidente. Infelizmente, no Brasil, o normal é esperar que algo aconteça para só então tomar providências.





O dilema da criação de filhos no Brasil: a ética compensa?

Dilema

Pais temem ensinar virtudes às crianças e torná-las presas fáceis em um país onde o dever e a verdade parecem vencidos pela mania de levar vantagem.

A dentista Márcia Costa abomina infrações às leis de trânsito. Em especial, a prática adotada por muitos pais de parar o carro em fila dupla, interrompendo o fluxo de veículos, para deixar os filhos na porta da escola. Ela prefere estacionar seu carro mais longe e fazer os adolescentes caminharem até lá. Não satisfeita, reprova publicamente os motoristas que alimentam a irregularidade. Os filhos protestam: "Que mico!", diz Beatriz, de 15 anos. "Mãe, assim é você quem acaba sendo a chata da história", afirma Lucca, de 12. A guerra à fila dupla envolveu até o marido de Márcia, Marcelo, que certo dia colocou a convicção da mulher à prova: "Você quer estar certa ou quer ser feliz?" É um velho dilema. Filósofos gregos já se faziam a pergunta há mais de vinte séculos: uns defendiam que fazer o que é correto, o que deve ser feito, é o caminho para a felicidade; outros argumentavam que tal conciliação é impossível.

Ética e felicidade na Grécia Antiga​​

Pródico de Ceos (século V a.C.), um sofista, acreditava que ética e felicidade eram excludentes. Ele citava o exemplo da escolha de Hércules. Segundo a mitologia, o herói se deparara com duas deusas, a felicidade e a virtude, que o convidavam a viver duas vias distintas. Hércules optava pela virtude em detrimento dos prazeres passageiros. Já Aristóteles (século IV a.C.) pensava que ética e felicidade eram complementares: a primeira como o meio, a outra, como fim
O dilema vive no Brasil hoje. E se acirrou há poucas semanas com a publicação do artigo do economista Gustavo Ioschpe, colunista de VEJA, intitulado "Devo educar meus filhos para serem éticos?" Ioschpe revelou a apreensão de criar filhos em uma nação às voltas com problemas éticos de estaturas variadas — da ausência de pontualidade para compromissos à ausência de honestidade para governar. A certa altura, ele apresentou assim seu dilema: "Será que o melhor que poderia fazer para preparar meus filhos para viver no Brasil seria não aprisioná-los na cela da consciência, do diálogo consigo mesmos, da preocupação com a integridade?" Foi a senha para que milhares de leitores se manifestassem, compartilhando apreensão idêntica.
Mais de 30.000 pessoas recomendaram o texto, reproduzido em VEJA.com, utilizando recurso do Facebook; centenas deixaram comentários ao artigo e espalharam as ideias contidas nele pela internet. Muitos aproveitaram a ocasião para contar suas histórias, seus dilemas. É o caso de Márcia Costa e dos demais pais ouvidos nesta reportagem. "Temos que criar nossos filhos para serem do bem ou para se darem bem? A preocupação é o quão inocente nossos filhos vão ser se forem educados para serem do bem", diz a tradutora Samira Regina Favaro Gris. A médica Denise Zeoti acrescenta: "A ideia de passar valores para minha filha e torná-la uma presa fácil me assusta. Quero que ela seja uma pessoa ética, correta, mas não quero que ela seja passada para trás." Continue a ler a reportagem

Leitores falam sobre o dilema ético na criação de filhos

1 de 4

Sandra Capaldi Arruda, engenheira florestal, Piracicaba (SP)

Sandra com a filha Laura e o marido, Marco Aurélio
"Havia algumas regras na escola da minha filha. Uma delas: todos os alunos têm que usar uniformes. Outra: na aula de educação física, as meninas devem prender o cabelo. Um dia, fui à escola e percebi que nenhum estudante usava o uniforme. Na aula de educação física, todas as meninas tinham os cabelos soltos. Comecei a me fazer perguntas: 'Se é uma norma, por que ninguém cobra seu cumprimento?' Mais uma: 'Será que estou sendo muito exigente com minha filha?' Apesar das dúvidas, continuo com a certeza de que as regras são importantes. Se você não exige das crianças respeito às normas, como querer que elas façam isso quando forem adultas?"

Do ponto de vista filosófico, ética é um conjunto de valores e princípios que define os limites de ação de cada ser humano. "Esse conjunto nos orienta em três questões fundamentais, intrinsicamente ligadas à nossa liberdade individual: Quero? Posso? Devo? Minha resposta depende dos princípios éticos que adoto", diz o filósofo Mario Sergio Cortella. É uma questão simples de compreender quando aplicada à prática. De maneira geral, queremos muitas coisas: em alguns casos, podemos até obtê-las (ou realizá-las), mas, em outros, não devemos alcançá-las. Pode ser o caso de parar o carro em fila dupla na porta da escola dos filhos; pode ser o caso de desviar dinheiro dos cofres públicos. Pessoas eticamente saudáveis, prossegue a filosofia, são aquelas que podem, mas não fazem o que é errado.

Cortella: felicidade com ética
Quando se trata de ética, portanto, há sempre um choque entre princípios e ações individuais e coletivos. Seria mais correto, aliás, falar em éticas — no plural. Cortella tem um inusitado exemplo para explicar como elas se chocam, e como, no convívio social, a ética se impõe aos interesses individuais. É a análise do caso de uma casca de banana atirada ao chão. "Quem a atirou ali propositalmente seguiu a ética tola, egoísta. Quem viu a casca, mas não a retirou, agiu segundo a ética da omissão. Finalmente, quem jogou a casca no lixo seguiu a ética da vida coletiva."
Criar filhos no Brasil demanda preocupação extra por causa dos tipos de ética que se chocam no ambiente público. Afinal, como convencer os filhos de que é preciso falar sempre a verdade quando um deputado federal preso por desvio de dinheiro público é absolvido por seu pares, que asseguram a ele o mandato de representante do povo? "Uma sociedade em que os poderosos não são presos, em que nem todos são iguais perante a lei, vive uma contradição ética. Em público você quer parecer igualitário, mas por baixo dos panos, para seus parentes, você usa a ética da desigualdade", diz o antropólogo Roberto Da Matta (leia entrevista abaixo).
A ética — a da igualdade — pode ser o caminho mais longo e árduo para os brasileiros, em geral, e para os pais, em particular, rumo à felicidade. Mas é, segundo filósofo Cortella, certamente o único. "Não é possível ser feliz quando não se tem paz de consciência. Quem age de acordo com a conveniência do momento, prega uma ideia e aplica outra, não terá essa paz. Esse sofre de esquizofrenia ética", diz. "Agir de acordo com o que consideramos correto é o que traz paz de espírito." No artigo que levantou a discussão, Gustavo Ioschpe, logo após apresentar seu dilema, concluiu que deixar de transmistir a seus filhos um legado ético era uma decisão insustentável. O norte é mesmo a ética.
 

"O Brasil odeia a igualdade, o mérito, o mercado"

Roberto Da Matta, antropólogo

O cotidiano brasileiro é pautado pela ética? Depende de um fator: de que ética estamos falando. No Brasil, estamos acostumados com uma ética da desigualdade, que faz a gente ter uma enorme dificuldade em aceitar a igualdade.
Trata-se, então, de uma questão cultural? É uma questão cultural que tem a ver com uma cultura política profundamente desigual. Esta tem raízes no regime da escravidão e da monarquia, fundados na desigualdade, e foi transferida para a República, cujo pilar é a igualdade, sem que houvesse a necessária discussão e sem que o conceito de igualdade fosse internalizada nos cidadãos. As questões são sempre discutidas a posteriori, quando acontece alguma coisa alarmante, como um caso de corrupção em que um ministro roubou muito. Aí, paramos para discutir.
Qual a relação entre igualdade e ética? Temos um ditado revelador no Brasil: os incomodados que se mudem. Assim, se você chegar a um restaurante com suas amigas, falando alto e dando risada, e isso incomodar a mim, eu é que sou obrigado a me retirar. A desigualdade prevalece sobre a igualdade. Dentro da nossa cultura, tudo isso é sintomático: a maneira de furar fila, não esperar a vez do outro, não dar vez para pessoas idosas e assim por diante. Tudo isso precisaria ser discutido para criar uma ética de igualdade.
Em que medida essa ética da desigualdade é responsável, por exemplo, pela corrupção nos governos? Muitas vezes, achamos que uma mudança no estado acarretaria uma mudança automática na sociedade. É justamente o contrário. Quem assume os cargos públicos são nossos iguais, companheiros, parentes. São como nós as pessoas que reproduzem no estado esse padrão duplo de usar de vez em quando uma ética igualitária e em outros momentos uma ética baseada em relações, nos contatos. O Brasil não gosta de ser igual, odeia a igualdade, o mérito, o mercado. Prova disso é que, antigamente, o trabalho era considerado marginal e, por isso, os superiores não trabalhavam. Carregamos uma tradição aristocrática em lugar de uma herança moderna, baseada na ética da modernidade, que vem de uma orientação cosmológica diferente, interessada em melhorar esse mundo.
Essa noção de igualdade deve ser ensinada em casa? Sim, é preciso ser coerente em casa e na rua. Porém, a própria estrutura familiar é muito desigual. Os meninos podem chegar às 6h da manhã de uma festa, enquanto as meninas têm que estar em casa à meia-noite. Irmãos mais velhos ainda têm mais direitos do que os mais jovens. Em resumo, a mudança necessária tem que começar pela família.

Fonte: Revita VEJA, 06/10/2014

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Brasil fica em segundo pior lugar em relação à consideração por professores.

Enquanto brasileiros comparam o trabalho dos professores ao de bibliotecários, os chineses comparam pedagogos a médicos.

O Brasil ficou em segundo pior lugar de um ranking que a avalia a forma como a população enxerga a profissão de professor. Os pesquisadores fizeram perguntas como: “Você encorajaria seu filho para se tornar professor?”, “Você acredita que a remuneração dos professores é justa?” e “Quanto você acredita que os alunos respeitam o professor?”. As respostas dos brasileiros deixaram o País acima apenas de Israel, num ranking com 21 países.
O lugar onde professores têm o melhor status é a China.  O índice mostra que China, Coreia do Sul, Turquia, Egito e Grécia respeitam mais os seus professores do que qualquer país europeu ou anglo-saxão.
Resultados no Brasil
Os brasileiros são mais propensos a dizer que um professor teve influência em suas vidas do que moradores de outros países pesquisados. No País, os cidadãos demonstram mais confiança no professor do que no sistema de ensino.
Menos de 20% das pessoas possivelmente ou seguramente encorajariam os seus filhos a se tornarem professores. Em contrapartida, mais de 45% dos pesquisados possivelmente ou seguramente não encorajariam seus filhos a se tornarem professores. Na China, enquanto 50% dos pais encorajariam os seus filhos, apenas 8% fariam o mesmo em Israel.
Os brasileiros apoiam salários mais altos do que os atuais para os educadores. A grande maioria (88%) acredita que os docentes deveriam ser remunerados de acordo com o desempenho dos seus alunos. Enquanto isso, Japão, França e EUA julgam que a remuneração dos seus professores é entre 6% e 55% mais alta do que o considerado justo.
Quando questionados se os alunos respeitam os pedagogos, aproximadamente 65% dos brasileiros disseram que não.
Enquanto brasileiros comparam o trabalho dos professores ao de bibliotecários, os chineses comparam pedagogos a médicos.

 A pesquisa
O Índice Global de Status de Professores foi criado pelo professor de economia da Universidade de Sussex, Peter Dolton, e pelo professor associado do Departamento de Estatística e Econometria da Universidade de Málaga, dr Oscar Marcenaro-Gutierrez.
O estudo se baseia em uma aprofundada pesquisa de opinião pública feita pela Populus em 21 países. Os países foram classificados por meio de um índice com base nesses resultados. Em cada um dos países a seguir, foram entrevistadas mil pessoas:
Confira o Ranking:
1. China
2. Grécia
3. Turquia
4. Coreia do Sul
5. Nova Zelândia
6. Egito
7. Singapura
8. Países Baixos
9. Estados Unidos
10. Reino Unido
11. França
12. Espanha
13. Finlândia
14. Portugal
15. Suíça
16. Alemanha Japão
17. Itália
18. Republica Tcheca
19. Brasil
20. Israel

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Brasil tem 370 mil usuários regulares de crack em capitais.























Jovem consome crack no centro de Manaus
O crack e outras drogas a base de cocaína fumada são consumidos regularmente por 370.000 pessoas nas capitais do país e no Distrito Federal, sendo que a maior parte dos usuários se concentra na região Nordeste. E quase oito em cada dez usuários desejam um tratamento para o vício. Os números foram relevados por um grande estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado nesta quinta-feira pelos ministérios da Justiça e da Saúde.
Apesar de 78,9% dos usuários de crack terem manifestado vontade de passar por um tratamento, a pesquisa mostrou que o acesso aos serviços atualmente disponíveis é baixo. Nos trinta dias anteriores à pesquisa, postos e centros de saúde foram procurados por apenas 20% dos usuários. De acordo com os pesquisadores da Fiocruz, esse fato reforça a necessidade de ampliação desses serviços e de “pontes”, como agentes de saúde e consultórios de rua, entre os locais onde ocorre o uso da droga e os pontos de atendimento.
Nas capitais, os usuários do crack representam 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha. Apesar de comumente se pensar que a maior parte deles habita a região Sudeste do país, a pesquisa mostrou que 40% deles vivem na região Nordeste. De acordo com informações da Agência Brasil, para o secretário nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, Vitore Maximiano, isso ocorre por causa do Índice de Desenvolvimento Humano mais baixo na região.

Perfil – As pessoas que fazem uso de crack no Brasil são principalmente homens (78,7%), não brancos (80%), com idade média de 30 anos e baixa escolaridade. Apenas 20% cursaram ou concluíram o ensino médio e 0,3%, o ensino superior. Crianças e adolescentes representam 14% dos usuários das capitais.
A renda da maior parte dos usuários (65%) vem de trabalhos esporádicos ou autônomos. Em comparação à população geral, a porcentagem de pessoas que utilizam o sexo como forma de obter dinheiro ou drogas é elevada: 7,5% contra 1%.
Cerca de metade dos entrevistados relevou já ter sido presa, sendo 41,6% no último ano. O principal motivo apontado foi o uso e porte de drogas, com 13,9%.


Divisão por sexo – O tempo médio de uso de crack nas capitais é de quase oito anos (91 meses), com estimativa de dezesseis pedras da droga por dia. Já nos demais municípios, esse período corresponde a aproximadamente 5 anos (59 meses), com consumo de onze pedras. Enquanto os homens tendem a consumir a droga por mais tempo (média de 83,9 meses, contra 72,8 das mulheres), elas consomem 21 pedras por dia e os homens, treze.
Cerca de 10% das mulheres usuárias de crack relataram estar grávidas no momento da pesquisa, e mais da metade disse já ter engravidado depois de começar a usar a droga. Além disso, 44,5% das entrevistadas já sofreram violência sexual. Nos homens, esse número é de 7%.
Levantamento – O estudo quantitativo, denominado Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, foi realizado com informações de 25.000 pessoas, ouvidas entre março e dezembro de 2012.
Junto com essa pesquisa, foi divulgado também nesta quinta-feira o Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, realizado com 7.381 usuários de crack de 112 municípios de portes variados, entrevistados novembro de 2011 e junho de 2013.