quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Discurso Indireto: Muito Facebook — e pouca concentração?

Discurso Indireto: Muito Facebook — e pouca concentração?: A obsessão por consultar as redes sociais e o WhatsApp parece motivar um novo fenômeno: a atenção parcial contínua Os jovens continuam lend...

Muito Facebook — e pouca concentração?

  • A obsessão por consultar as redes sociais e o WhatsApp parece motivar um novo fenômeno: a atenção parcial contínua
  • Os jovens continuam lendo, na tela e no papel, mas têm mais dificuldade para ver um filme


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    MADRI - Num anúncio que está passando na televisão atualmente na Espanha, duas crianças desenham suas famílias. Um deles desenha o papai, a mamãe e os irmãos, todos com um celular grudado na orelha. O que a propaganda quer transmitir é uma oferta com acesso ilimitado ao celular. Use o celular o quanto quiser! Correio eletrônico, vídeos, Facebook, Instagram e WhatsApp!
    Passamos muitas horas grudados a uma tela. Por trabalho, mas cada vez mais por prazer, porque é útil para nos comunicarmos, a nossa prioridade. Verificar se recebemos uma nova mensagem eletrônica (coisa que costumamos fazer várias vezes por dia, obsessão recentemente batizada de “infobesidade”), manter várias conversas em grupo via WhatsApp, consultar confissões e notícias pelo Facebook, Twitter e outras redes sociais... E fazemos isso a todo momento: enquanto vemos televisão, comemos ou inclusive em plena peça de teatro (alguns teatros optam, eventualmente, por permitir o uso do celular durante as apresentações, para que o público compartilhe nas redes sociais aquilo que vê ).
    Todos (ou a maioria) já fomos vitimados pelo influxo digital. Os mais jovens também. Nos Estados Unidos e na Alemanha, os adolescentes passam sete horas e meia por dia usando meios digitais.
    Alguns autores já alertaram sobre os efeitos desses processos sobre a mente. É o que faz o livro A Geração Superficial – O Que a internet Está Fazendo Com os Nossos Cérebros (Editora Agir), de Nicholas Carr, que decidiu abandonar a vida ultrainformatizada e se mudou para as montanhas do Colorado, onde não havia telefone celular e a internet chegava mal. É também o caso de Manfred Spitzer, diretor da Clínica Psiquiátrica Universitária de Ulm e do Centro de Transferência de Conhecimentos para os Neurônios e o Aprendizado, no livro Demência Digit@l. O primeiro resumia assim os efeitos da internet sobre si mesmo: “Perco o sossego e o fio da meada, começo a pensar em que outra coisa fazer. Sinto-me como se estivesse sempre arrastando meu cérebro descentrado de volta para o texto. A leitura profunda que costumava vir naturalmente se transformou em um esforço”. Alguém mais já passou por isso? Já se viu em dificuldades para se enfiar em um livro, ou deixou de fazê-lo para checar suas mensagens no Facebook?
    Como melhorar a leitura digital
    Conselhos elaborados pelo psicólogo educacional José Antonio Luengo para que os jovens melhorem a leitura digital:
    – Quando entrar pela tela em um texto do qual precisar tirar conclusões, não hesite em seguir determinadas orientações do próprio texto que levem você a outras referências, não hesite em se movimentar seguindo seus conselhos. Mas faça isso com um caderno e um lápis à mão, para ir registrando ideias e observações.
    – Ao terminar a leitura do texto, elabore um resumo do que você leu, em seis ou sete linhas. Não vá dormir nem jogar videogame sem ter feito isso antes. Se você não ordenar as ideias, as perderá e as esquecerá.
    – Depois de chegar a uma ideia, de ir para outra página ou de fazer um esquema, procure voltar a ler o texto original em uma situação na qual nada o interrompa, sem clicar nos hiperlinks, como se estivesse lendo um livro.
    Os mais jovens leem muito, mas mudaram o suporte e o fazem de maneira diferente
    Spitzer, por sua vez, escreve o seguinte em seu livro (inédito no Brasil): “A afirmação de que a competência nas novas tecnologias teria uma correspondente repercussão positiva não foi demonstrada de forma alguma até agora. É estúpido também que a neurociência suspeite justamente do contrário. É que alguns estudos demonstram que o cérebro cresce justo onde é utilizado. E o contrário também é válido. Se não se utiliza o cérebro, ele então se atrofia”. Spitzer se preocupa com a maneira como a expansão da tecnologia afeta o cérebro das crianças. Sua opinião é de que não é conveniente para elas terem mais acesso a essas telas. “A utilização de computadores em idades muito tenras na creche pode motivar transtornos de atenção e, um tempo depois, ainda em idade pré-escolar, pode conduzir a transtornos da leitura”, afirma.
    A Federação de Editores da Espanha, no entanto, não acredita que os mais jovens leiam menos. “Apesar do lugar-comum generalizado, é o setor com mais leitores”, diz Antonio María Ávila, secretário da federação, em cujo Anuário 2012 conclui que 84,6% dos mais jovens leem no seu tempo livre. “E logicamente estão 100% escolarizados. Mas há dois tipos de leitura, uma prática e outra mais repousada. O que acontece ao ler digitalmente, seja num tablet ou no computador, é que a pessoa sente mais necessidade de comentar o que lê com quem for possível.”
    A leitura profunda se transformou em um esforço”, diz um especialista
    Eva Martín, uma madrilenha de 13 anos, está de acordo com Ávila. Ela joga Minecraft em um computador, usa “muito” o Facebook e o Twitter, mas também lê quase toda noite um livro na cama. “Tenho tempo para ler e para me comunicar pelo WhatsApp. São coisas diferentes. Gosto de me afundar na leitura. Agora estou lendo As Lágrimas de Shiva, que é misterioso e interessante. Pediram no colégio. E já escrevi uma história de 28 páginas de um menino que encontra um anel mágico, que é a porta para uma casa muito estranha.”
    Nota-se a mudança nas escolas? Segundo Amparo Torralbo, professora de espanhol e literatura no Instituto de Educação Secundária Joaquín Araujo, em Fuenlabrada, observa-se uma mudança na forma de escrever. “Eu me lembro da primeira vez que vi ‘catalão’ escrito com K. Precisa ser muito burro!, pensei. Vemos erros gravíssimos que podem decorrer das novas tecnologias, e acho que afeta a garotada, sua expressão, porque colocam uma abreviatura atrás da outra.” Por outro lado, os alunos mantêm o nível de leitura, segundo essa professora. “Leem o mesmo que antes, mas de outra maneira, baixam em vez de comprar o livro fisicamente. Mudam o suporte. Mas que leiam ou não depende mais dos seus gostos e interesses – embora muitos tenham uma dependência total do celular.” Torralbo tem um filho adolescente que adora jogar videogame, e como muitos pais ela impôs limites: o garoto só pode usar o console no fim de semana.
    Estamos ligados em muitas coisas, mas sem chegar a solidificar nada”, diz um professor
    Adriana Díaz, 24 anos, moradora de Cáceres, lê diretamente no seu celular. “Para enxergar é pior que o papel, mas... É um romance leve, tipo Cinquenta Tons de Cinza, que me recomendaram.” Díaz fornece outra pista: confessa que tem dificuldades para ver um filme inteiro. “É que são duas horas, acho difícil manter a atenção... Uma série passa mais rápido para mim. Acho que perdemos a capacidade de nos concentrar. Tudo se tornou mais rápido, mais em pequenas pílulas".
    Quem lida com livros eletrônicos dedica mais tempo à leitura do que antes
    O psicólogo educacional José Antonio Luengo, que dá aulas de Técnicas de Comunicação Educacional na Universidade Camilo José Cela, diz discordar da crença generalizada de que vamos de mal a pior. “É verdade que nossa garotada passa muito tempo pendurada nas telas e nos tablets. Basicamente eles estão desenvolvendo procedimentos de comunicação diferentes dos comuns, mas que também são importantes. O fundamental, o que devemos estudar, é se na escola se introduzem e se trabalham de forma eficaz a interpretação de textos e a escrita no formato digital. É importante que continuem manuseando o livro em papel, e disso depende que leiam textos e façam resumos no ensino primário. Isso se faz e vai continuar a ser feito na escola.”
    Não é preciso olhar para o outro lado, porque os adolescentes vivem na era digital e se comunicam com todo mundo, opina Luengo. O especialista acha que as escolas têm um objetivo, que é ensinar aos alunos as habilidades para a leitura digital. “O professor tem de saber que há uma série de habilidades que ele pode aprender. Essa é uma tarefa que o docente também tem, e para a qual não estamos suficientemente formados.” Apesar de tudo, Luengo acha que a mudança não está afetando a capacidade de leitura dos mais jovens. “Se estão lendo, mesmo que seja no Facebook, estão adquirindo as chaves da leitura. Acho que nossas crianças quando elaboram um texto ou fazem um comentário estão pondo suas ideias em preto no branco. O que acontece é que, na leitura na tela, a leitura profunda é incompleta. O problema é que passamos tempo demais nesse tipo de leitura e dedicamos menos à mais sossegada. A absorção não é a mesma quando você lê uma página em papel sem interrupções. Na leitura digital há certa dispersão. Você vai de uma tela a outra, o texto leva você a um vídeo, e depois a um mapa, e a concentração é menor, embora a quantidade de leitura seja maior.”
    Segundo os especialistas, há um novo fenômeno que afeta cada vez mais gente: a atenção parcial contínua. É o que acontece quando passamos muito tempo diante de uma tela e “ficamos ligados em muitas coisas, mas sem chegar a solidificar nada”, como descreve Luengo. “Algo assim como ‘quem tudo quer nada tem’.” Para lutar contra o fenômeno, ele acha que devemos buscar um equilíbrio. “O livro em papel nos permite uma vida interior que é indispensável viver e que não é tão fácil de experimentar quando se está diante de uma tela que permite ir de um lugar para outro. É preciso equilibrar a abordagem dos textos. Porque a incapacidade que estamos observando nos alunos lhes impede de ter esse mundo interior. É importante que interpretem bem o que leem. Digo a eles: ‘Animem-se e leiam, mas voltem à página original e façam anotações do que leram’.”
    Isidro Moreno, professor de Tecnologia da Informação e da Comunicação na Faculdade de Educação da Universidade Complutense de Madri, inclui uma nova referência: o conhecimento quebra-cabeças. “A internet e todos os dispositivos móveis fazem com que os jovens interpretem o mundo mediados pelas tecnologias, cria-se um conhecimento quebra-cabeças, ou uma sociedade-mosaico. Meus alunos lidam com bastante desenvoltura com os meios de comunicação, mas ficam só na parte externa dos meios, não aprofundam. Não têm tempo, ninguém os preparou, e os professores não estamos preparados para ver o que há por trás.” Para Moreno, “tudo isso vai em detrimento da leitura clássica, tradicional. Mas nos falta tempo e sossego para sentarmos e lermos. E quando você propicia isso para os mais jovens eles fazem, mas é preciso propiciar essa situação e criar a necessidade. Por sorte, os jovens são muito espertos”.
    Na Fundação Sánchez Ruipérez, foram feitos vários estudos, com a participação de 300 pessoas, a respeito do impacto da leitura digital sobre crianças e adultos. “Desde 2008 defendo que o digital vai mudar a forma de ler”, diz Luis González, diretor da fundação, que explica suas conclusões: “Esta fundação acredita que o importante não é se obcecar com o quanto as pessoas leem. Todos os estudos que manuseamos nos dizem que as crianças leem mais agora do que há 10, 20 ou 30 anos, tanto em número de livros quanto em frequência. As pessoas que lidam com livros eletrônicos dedicam mais tempo à leitura do que antes. Depois, no caso dos tablets, há outro componente positivo, o fato de ele conectar uns aos outros, ao contrário dos livros confinados. A desvantagem é que, ao ter a internet no tablet, me aparecem comunicações continuamente, e me distraio. A partir de agora vamos ter vários tipos de leituras: uma leitura de navegação muito superficial, e essa forma de passar uma vista-d’olhos vai se transferir para a leitura dos livros digitais. E depois haverá uma leitura mais pausada”.
    González se lembra da primeira vez que leu em um Kindle: “Sublinhei uma frase e o aparelho me informou que 17 pessoas no mundo haviam sublinhado a mesma frase. Isso me pareceu muito potente e inquietante.” Ele também alude à necessidade de buscar um equilíbrio. “A leitura profunda é fundamental, porque gera uma capacidade de abstração muito maior, obriga você a manter um conceito ao longo de muitas páginas. Se nos dedicamos só ao vapt-vupt nos desvalorizamos como leitores. Eu agora me defino como um leitor pós-digital – pessoas que assumimos isso e nos reencontramos com a leitura no verão, e nos entregamos a uma leitura mais luxuosa e prazerosa do que quando só tínhamos o papel.”

    Fonte: O Globo , 28 de novembro 2014.

    quarta-feira, 27 de novembro de 2013

    Discurso Indireto: "Selfie" é nova maneira de expressão. E autopromoç...

    Discurso Indireto: "Selfie" é nova maneira de expressão. E autopromoç...: A mania é esticar o braço segurando o celular apontado para o rosto e espalhar a foto produzida nas redes. Há várias razões para isso ...

    "Selfie" é nova maneira de expressão. E autopromoção.

    A mania é esticar o braço segurando o celular apontado para o rosto e espalhar a foto produzida nas redes. Há várias razões para isso

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    Kim Kardashin tira um auto-retrato
    A socialite Kim Kardashian é uma das celebridades que abusam dos selfies - Reprodução/Twitter
    Na últi, o  O Orespeitabilíssimo Dicionário Oxford, o mais extenso da língua inglesa, anunciou que um novo verbete passaria a figurar em suas páginas: selfie, que reúne o substantivo self (eu, a própria pessoa) e o sufixo ie. Eis sua definição: "Fotografia que alguém tira de si mesmo, em geral com smartphone ou webcam, e carrega em uma rede social." Os responsáveis pelo Oxford informaram que o dicionário surgido no século XIX aceitou o novo verbete porque as citações a selfie cresceram 17.000% neste ano — mensalmente, um programa coleta mais de 150 milhões de palavras em publicações variadas e analisa a recorrência delas. O ingresso do termo no Oxford, no entanto, não é apenas fruto de uma estatística. É o reconhecimento de um fenômeno global. Tornou-se um gesto comum esticar o braço segurando o celular apontado para o rosto, e depois compartilhar a foto no Instagram, Facebook ou similares. O selfie pode revelar um estado de espírito ou ser um meio de autopromoção. Anônimos e famosos aderiram. Em excesso, selfies podem até fazer mal, alertam psicólogos.
    O selfie não é invenção do mundo digital, é bom frisar (mas é igualmente importante reconhecer que a tecnologia transformou a prática). O primeiro registro reconhecido como tal data de 1839, assinado pelo fotógrafo Robert Cornelius. Os adolescentes também abraçaram a ideia muito antes do Instagram. Em 1914, Anastasia Nikolaevna, de 13 anos, filha do czar Nicolau II da Rússia, posou em frente a um espelho. Logo após o retrato, disse: "Foi muito difícil, minhas mãos tremiam." O próximo passo, é claro, foi compartilhar a imagem com os amigos. Sem acesso ao Facebook, claro, usou cartas.
    O autorretrato é um gênero antigo. Há relatos de que, no século V a.C., Fídias deu a uma escultura do templo de Parthenon, em Atenas, seu rosto. Mas foi só no Renascimento que o gênero ganhou força, expandindo a capacidade de expressão artística. Munidos de espelhos de grande qualidade, que então se popularizavam, mestres usaram o autorretrato como caminho para o autoconhecimento: as criações intimistas revelaram vários estados de espírito — um contraponto a temas como a narrativa épica e o convívio social. Artistas como o alemão Dürer (1471-1528) e o holandês Rembrandt (1606-1669) foram pródigos na arte, retratando várias vezes o próprio rosto. Ao mesmo tempo que revelavam a si mesmos, construíam uma imagem pública.
    No mundo digital, a brincadeira se espalha à exaustão graças à mistura de dois ingredientes, hardware e software. "Os selfies ganharam relevância depois do lançamento das câmeras que transformaram smartphones com conexão à internet em máquinas fotográficas. E como todo hardware precisa de software, o Instagram teve papel indispensável", diz a psicóloga Luciana Nunes, mestre em saúde mental, diretora do Instituto Psicoinfo e estudiosa da relação entre tecnologia e compartamento. O Instagram tem números para sustentar a tese da especialista. Nos três anos de vida da rede de fotos, mais de 60 milhões de imagens publicadas no serviço carregam a hashtag selfie. O número supera a soma de citações de outras marcações importantes da rede: #cats (gatos), #look (visual, estilo) e #eat (comer).
    Na leitura da psicóloga brasileira, há três grupos bem definidos de autores de selfies. O primeiro é formado pelos exibicionistas. É gente que costuma parar diante do espelho do elevador ou da academia e exibir para a câmera, por exemplo, os resultados da malhação. O segundo reúne aquelas pessoas que querem apenas mostrar seu estado de espírito – felicidade ou tristeza ao acordar, ao encontrar um amigo etc. Por fim, tem o time que quer mostrar que está em algum lugar, parque ou shopping, por exemplo, desde que a paisagem não ganhe mais importância do que o autor.
    Majoritariamente, os selfies são produzidos por jovens com idades entre 13 e 24 anos. Nove em cada dez pessoas desse grupo postam os autorretratos, revelou o instituto americano Pew Internet Research em estudo realizado em maio com adolescentes americanos. "O selfie permite que você mostre seus sentimentos sem artifícios, sem uso de filtros que distorcem fatos", diz o vietnamita Joshua Nguyen, criador do Selfie, primeiro aplicativo exclusivamente dedicado aos autorretratos. Em geral, esses apps dedicados possuem apenas três botões: um para capturar a imagem, outro para programar o instante em que a foto será feita (temporizador) e, finalmente, um para compartilhar o produto nas redes sociais. Na semana passada, Nguyen ganhou um concorrente de peso, o Shots of Me, app bancado, entre outros investidores, pelo cantor pop canadense Justin Bieber — um dos maiores disseminadores de selfies, aliás — que colocou 1,1 milhão de dólares no negócio. Onde há selfie, pode haver dinheiro.
    Bieber, é claro, não foi o único famoso a explorar os selfies. As cantoras Rihanna e Lady Gaga, os atores Ashton Kutcher e Demi Moore e subcelebridades como Kim Kardashian aderiram. O formato ganhou tamanha força que rendeu também brincadeiras com famosos que jamais se aproximaram dele. Hoje, já é possível encontrar nas redes o príncipe William, herdeiro do trono inglês, esticando o braço para fazer uma fotinho do beijo real com Kate Middleton. Até o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e a ex-primeira-dama americana Jacqueline Kennedy ganharam selfies forjados. Parece improvável que gente tão discreta aderisse à moda. Mas o resultado é divertido.
    Tanta autoexposição pode ter um preço, dizem alguns psicólogos. "Selfie é uma nova maneira de expressão. Doses excessivas, contudo, podem ser nocivas a seus praticantes", diz Larry Rosen, professor de psicologia da Universidade da Califórnia e uma das autoridades quando o assunto é a relação entre homem e tecnologia. Rosen defende que o componente eminentemente narcisista do selfie pode induzir transtornos de personalidade, intensificando traços de agressividade e reclusão. 

    segunda-feira, 4 de novembro de 2013

    Discurso Indireto: Pais devem ser os primeiros a ajudar filho a lidar...

    Discurso Indireto: Pais devem ser os primeiros a ajudar filho a lidar...: Se o bullying nas escolas já é um grande problema na vida dos adolescentes, nos casos de homofobia, a situação é bem pior. Segundo  estudo...

    Pais devem ser os primeiros a ajudar filho a lidar com homofobia na escola.

    Os pais devem mostrar que estão abertos para conversar e apoiar o filho quanto a sua orientação sexual
    Se o bullying nas escolas já é um grande problema na vida dos adolescentes, nos casos de homofobia, a situação é bem pior. Segundo estudo realizado em 501 escolas de 27 estados do país pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em 2009, 87,3% das pessoas apresentaram algum nível de preconceito em relação à orientação sexual..O estudo foi feito com questionários aplicados a 18.599 pessoas (entre estudantes, professores, diretores e pais) e revelou também que 98,5% dos entrevistados desejavam manter algum nível de distância dos homossexuais.Além de sofrerem com a homofobia nas escolas, o que agrava a situação é que os filhos dificilmente encontram o apoio de que precisam em casa. "Se uma criança sofre preconceito por ser negra, ela chega em casa e fala com a mãe, que vai reclamar com a professora, a diretora. Os jovens gays, geralmente, não têm com quem falar, porque os próprios pais não aceitam sua orientação sexual", declara Edith Modesto, terapeuta especialista em diversidade sexual e questões de gênero e fundadora e diretora do GPH (Grupo de Pais de Segundo Edith, que é autora de "Mãe Sempre Sabe? – Mitos e Verdades sobre Pais e seus Filhos Homossexuais" (Editora Record), o primeiro passo para ajudar os filhos é aceitá-los completamente. "O preconceito está diminuindo, mas, dentro de casa, mudou muito pouco. Os jovens ainda têm medo de contar para família que são gays. Se tiverem a aceitação dos pais, saberãoDe acordo com o educador Caio Feijó, autor dos livros "Pais Competentes, Filhos Brilhantes" e "Os Dez Erros que os Pais Cometem" (Editora Novo Século), o primeiro preconceito que os jovens gays sofrem acontece em casa. "A primeira discriminação acontece quando os pais sabem. Por mais que eles tenham uma cabeça aberta, a maioria não fica feliz, pois tem receio de que o filho sofra com o preconceito da sociedade", diz.  Para Feijó, os pais devem buscar ajuda para conseguir lidar com a homossexualidade do filho, ou ele irá esconder sua orientação.
    "O primeiro lugar que pode e deve oferecer segurança para o jovem é a casa dele. É preciso ouvir quando ele falar sobre sua orientação, e sem recriminá-lo. O jovem está cansado de ouvir piadas e ver os gays serem apresentados de modo preconceituoso na TV. Ele tem muita angústia dentro dele", afirma Maria Cristina Cavaleiro, professora de políticas públicas da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), coordenadora do grupo de estudo sobre gênero e diversidade da instituição e participante do grupo Edges (Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual) da USP (Universidade de São Paulo).
    "Há uma dificuldade muito grande de aceitação por parte dos pais. Eles foram criados para terem filhos héteros, e os filhos aprendem, desde criança, que devem ser assim, que os sonhos dos pais foram construídos para isso", diz Edith. "Muitos jovens me procuram perguntando como fazem para serem héteros, iguais ao pai, à mãe. Os filhos ficam tristes ao ver que os pais têm dificuldade para aceitá-los. Os adultos precisam entender que eles são assim, não escolheram ser."

    Filhos confiantes

    Pensar em possíveis situações que o filho pode enfrentar na escola e prepará-lo para elas não é a melhor saída para ajudá-lo, segundo os especialistas. Para Edith Modesto, só se deve conversar se a situação acontecer. "Por mais que pareça que os jovens não ouvem os pais, tudo o que a família diz tem grande importância para eles. Se os pais sugerirem possíveis problemas, eles podem ficar com medo e se sentirem ansiosos sem necessidade".

    Segundo Klecius Borges, psicólogo pós-graduado pela USP que atua na área de terapia afirmativa para gays e orientação familiar desde 2001, os pais preparam os filhos para possíveis situações preconceituosas ao aceitá-los como são, sem críticas ou opressão, e ao ensiná-los que as pessoas são diferentes e não há nada de errado nisso. Com amor e apoio, os filhos acabam tendo maior autoconfiança para lidar com os problemas, incluindo a homofobia.
    Para Feijó, se os adultos ensinarem os filhos a terem autonomia, a saberem lidar com frustrações e passarem a eles valores como cidadania, moral e ética, os jovens terão capacidade para se protegerem sozinhos.

    Quanto o pai pode interferir

    Ao perceber que o jovem é vítima de homofobia na escola, é natural que o primeiro impulso dos pais seja o de ir ao colégio e cobrar satisfações e, até mesmo, tentar conversar com os pais do colega que maltrata o seu filho. No entanto, é preciso ter cuidado para respeitar o espaço e a vontade do adolescente.
    "Os pais só podem falar na escola se o filho permitir. Eles não podem chegar dizendo que o filho é gay e está sendo vítima de preconceito, a única pessoa que pode dizer isso é o próprio jovem, que, muitas vezes, não quer sair do armário ainda", diz Edith.
    Além disso, principalmente na fase da adolescência, é comum que o jovem queira resolver sozinho os seus problemas e tenha vergonha que os pais tentem fazer isso por ele. "Se os pais vão à escola, o jovem fica com fama de dedo duro, de covarde. Quanto mais os pais fortalecerem a autoestima do filho, mais ele mesmo irá se defender e falar com a direção sozinho, se for o caso", diz ela.
    Para Klecius Borges, nem sempre o filho adolescente deve resolver sozinho todos os problemas da sua vida. "É preciso avaliar se o que ele está sofrendo é grave e o quanto isso o está machucando. Se o pai ou a mãe perceber que ele está sofrendo e não sabe lidar com isso, cabe ao adulto ajudar", diz.
    Se, por exemplo, a discriminação é praticada pelos próprios professores, os pais devem comunicar imediatamente o ocorrido à direção da escola. "A Constituição fala que todos devem ser tratados sem preconceito. O adulto precisa saber que seu filho tem direito a expressar sua sexualidade e deve lutar por isso. É nessa fase que o jovem forma sua identidade, é fundamental que ele não sofra rechaço", afirma Maria Cristina.

    Nova escola

    De acordo com a terapeuta Edith Modesto, se o adolescente já foi vítima de preconceito em uma escola e for mudar de colégio, os adultos devem conversar com a direção da nova instituição para avaliar sua filosofia. No entanto, a orientação sexual do filho só deve ser mencionada caso o jovem os autorize a falar sobre isso. 
    Para Borges, cabe aos pais escolher, no momento da matrícula, uma escola que saiba lidar com adiversidade de uma maneira geral. Os adultos devem perguntar, sem expor os filhos, se algum aluno já sofreu bullying e como isso foi tratado.

    Sinais de que algo não vai bem

    Com a tentativa de independência que é comum durante a adolescência, é normal que muitos jovens que sofrem preconceito na escola evitem contar o problema para os pais. Mas há sinais comportamentais que podem ajudar a família a identificar se algo errado acontece. Não querer ir à escola, sempre se atrasar para se arrumar, ter dificuldade de acordar e apresentar uma queda repentina no desempenho escolar são alertas que jovens que sofrem bullying começam a dar. "Se o jovem não conta, mas apresenta uma mudança de comportamento muito evidente e abrupta, é preciso conversar com ele", fala Borges.
    Nesse caso, o ideal seria que os filhos vissem espaço para conversar com os pais sobre o problema. "Mas, se os pais percebem que a situação é grave, é preciso tomar uma atitude, afirma Maria Cristina. Segundo ela, caso o adolescente ainda não tenha se assumido, há formas de mostrar para ele que se está aberto para esse tipo de conversa. "Hoje tem a novela que mostra personagens homofóbicos, por exemplo. Os pais podem mostrar que acham a atitude deles horrível, e os filhos entendem o recado sem que o espaço deles seja invadido", diz.
    Já quando a orientação do filho é algo aberto para a família e, mesmo assim, ele não fala sobre o que acontece na escola, vale ir ao colégio, sondar o que está acontecendo e ouvir o que os profissionais têm a dizer, segundo Maria Cristina. "Provavelmente, a primeira atitude da escola é negar, mas, caso se tenha certeza da homofobia, os pais devem buscar ajuda na Secretaria de Diversidade, nos disques-denúncia, na delegacia de ensino".