segunda-feira, 10 de outubro de 2011

" Redes sociais - comportamento, maturidade e oportunidade na escola."

Há quatro meses atrás, participei de um seminário cujo tema foi "a nova realidade tem voz" produzido por uma renomada universidade   de nosso país.  O evento reuniu educadores, políticos, publicitários, administradores, jornalistas, blogueiros, entre outros, para discutir para discutir o impacto das redes sociais no comportamento de pessoas e empresas. 
E, vendo que o grande embate em nossas escolas hoje é a questão do uso de celulares pelos nossos alunos, lanço aqui o que presenciei no referido seminário e lanço também, indagações a respeito do assunto no ambiente educacional.
Aparentemente, ainda há muita especulação, dúvidas e questionamentos sobre como se aproveitar das redes sociais para usos efetivos em publicidade, comunicação, campanhas políticas, divulgação de eventos, comércio, etc. Portanto, devemos permitir também muitas dúvidas no que tange ao papel dessas redes nos processos educacionais.
Duas verdades aparecem de forma muito cristalina ao analisarmos todo esse contexto e me permito aqui compartilhá-las:

1 - Novo comportamento digital

É capital a compreensão, por parte dos educadores, do poder de mobilização que os computadores exercem sobre toda uma geração (arrisco dizer que todos abaixo dos 30 anos). Essa geração, quando está na frente de um computador, é capaz de entreter-se sem limite, de forma compulsiva, independente do local onde esteja. Além disso, parece capaz de manter a atenção voltada a tudo que acontece a sua volta enquanto "navega" freneticamente. No seminário havia centenas desses jovens, em sua maioria analistas ou gerentes da área de comunicação ou marketing de grandes empresas. Eles assistiam às palestras enquanto navegavam, clicavam, comunicavam-se, "twitavam", mandavam e-mails, trabalhavam, tudo ao mesmo tempo, numa digitação frenética, e com a maior naturalidade. Era como se a conversa no palco fosse música de fundo, tema para trabalhar ou se comunicar. 
Se alguém já visitou a Campus Party, mega encontro de internautas anualmente realizado na cidade de São Paulo, veria esse comportamento ainda mais potencializado. Insano ou real, produtivo ou superficial, difícil julgar, mas o processo cultural parece bem maduro. Tenho amigos, profissionais maduros, capazes de produzir uma dezena de posts diários no twitter, retroalimentando toda uma cadeia de outros profissionais com pitadas de conhecimento, humor e cultura. Fazem isso naturalmente, diariamente, cotidianamente, enquanto continuam tocando suas vidas (e trabalham, têm filhos, esposas, maridos, cachorros,...). Escrevem quando assistem ao jogo de seu time , quando chegam do cinema, quando estão no restaurante, quando acabam de ler um livro interessante... Será que esse comportamento é mesmo inexorável, ou seja, se instalará em todos nós?
Se fizermos um corte rápido para nossos cenários escolares, veremos nossos adolescentes diante da mesma compulsão - eles podem ficar horas sentados, manipulando ao mesmo tempo dois ou três desses equipamentos de publicação, comunicação e entretenimento e ainda manter um olho no que vem da tv ou do mundo analógico. E ainda continuam conversando com amigos que acabaram de ver, com os que estão ao seu lado e com outras pessoas que nunca viram. Se os deixarmos livres como seus celulares na sala de aula, são capazes de navegar e conversar por baixo das carteiras enquanto nos degladiamos, buscando capturar sua atenção.
Será que devemos acreditar que eles podem produzir mais se liberados a fluírem em suas formas naturais de comunicação, ou seja, se os deixarmos utilizar livremente seus instrumentos de comunicação? Conseguiremos cooptá-los, planejando colocar seus brinquedinhos a serviço dos nossos objetivos curriculares? Poderia ser um estratégia didática utilizarmos os celulares para projetos em sala de aula, oficializando assim esse instrumento tão versátil, ou será melhor banirmo-los das salas de aula? Qual nosso papel diante desse enorme desafio? Como conscientizar nossos futuros cidadãos a se apropriarem de forma equilibrada dessas tecnologias?

2 - O poder do indivíduo, do cidadão

Outra constatação importante que fiz nesse seminário, foi a de que as redes socais dão poder (empowerment) ao cidadão comum, ou seja, dão-lhes vez e voz. Um exemplo desse fato, foi por ocasião da Copa do Mundo passada, quando um cidadão pode mandar o Galvão Bueno "calar a boca" (ele ouviu e reagiu). Um outro exemplo mais próximo do que me refiro, foi quando o prefeito de Goiânia, ficou sabendo via rede social, que uma empresa de telefonia estava realizando uma obra irregular em área imprópria. Ele ouviu e também reagiu, embargando a obra e multando a referida empresa. As empresas tem hoje, nas redes, possibilidades de ouvir seus clientes e não clientes numa escala e com uma agilidade nunca antes possível. Esses clientes estarão formando opinião para a produção e readequação de produtos e serviços numa dinâmica inédita no processo de produção. 
Uma opinião mal dada, um erro de ortografia, um equivoco menor pode levar hoje uma celebridade à lona em algumas horas. O consumidor/espectador finalmente fala e é ouvido. E isso amadurece rápido, tanto que empresas, agências de publicidade, veículos de mídia, políticos, entre outros, debruçam-se sobre esse fenômeno para capturar mais e melhores resultados. 
O indivíduo que tem uma boa ideia, hoje pode empreender e transformá-la num negócio com pouca intermediação. Nunca tivemos acesso aos meios de produção e comercialização de maneira tão simples e direta.

E nós, na escola, o que podemos tirar disso tudo? Como isso impacta nossos resultados? Vamos primeiro analisar o aluno e seu novo poder (sua voz sendo ouvida). Ele pode querer escolher mais e melhor o que consumir em seu cardápio curricular. Ele pedirá uma política mais abrangente, na qual seus interesses serão ouvidos e atendidos. Estamos preparados para esse currículo plural? Nossos currículos vão dar conta desse desafio? Vamos ter de ser muito mais significativos para o aluno do que somos. 
Vamos olhar agora para o professor empreendedor. Devemos usar computadores e celulares em nossas atividades curriculares? Até onde o professor deve ir para acompanhar as transformações tecnológicas?

Considerem essas indagações como provocação para uma reflexão profunda e de longo alcance sobre os desígnios do processo educacional formal, em busca de uma escola que responda as necessidades de uma sociedade em transformação.

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